Poesia espĂ­rita
Poesias EspĂ­ritas
O ESPIRITISMO

O Espiritismo é o desenvolvimento do Evangelho, a extensão e a expansão da vida.

Verdade, é pois! sua sombra querida
Vem sustentar, encorajar meus cantos,
E penetrar de prazer sem medida
A feliz vaga de meus sonhos tantos.

Como uma luz refletida em minha alma,
De seu Espírito raios risonhos
Enchem meus dias de fulgente calma,
Enchem-me as noites de encantados sonhos.

Então dos céus eu invoco as idades,
Seu sopro puro traz-me uma lembrança,
E do presente as nevuosidades
Dissipa ante um futuro de esperança.

“Criança – ele diz – a terra abandonando,
“Antigos dias de novo acharás;
“Ao lado teu, quem foi teu pai te amando,
“Nos corações amores eternais.

Marie-Caroline Quillet
Membro da Sociedade dos Escritores

Pont-l’Éveque (Calvados).

A Sra. Quillet, autora da Eglantine solitaire, acaba de publicar um encantador livrinho com o título de Une heure de poésie17, que será apreciado por todos os amantes dos bons versos. Sendo a obra estranha à Doutrina Espírita, posto não lhe sendo absolutamente contrária, sua apreciação escapa da especialidade de nossa Revista. Limitar-nos-emos a dizer que a autora prova uma coisa: pode-se ter espírito e crer nos Espíritos, contrariamente à opinião de alguns de seus confrades em literatura.

A Sra. Quillet nos escreve o que segue, a respeito de uma das comunicações da Sra. Foulon, publicada no número de março.

“A Sra. Foulon imagina que os homens não compreenderiam a poesia do Espiritismo. Deve ter razão do seu ponto de vista luminoso. Sem dúvida os poetas sentem suas asas pesadas pelas trevas de nossa atmosfera. Mas o instinto, a dupla vista de que são dotados, vêm auxiliar-lhes a inteligência. Eu creio que cada um é chamado, conforme suas aptidões, ao grande trabalho da renovação terrestre: os poetas, os filósofos, por inspiração dos Espíritos; os mártires, os trabalhadores, pelo gênio dos filósofos e pelo canto dos poetas. É verdade que esses cantos não passam de um suspiro; mas no exílio dos suspiros formam a base e o complemento do concerto.”

Em apoio dessas palavras ela junta as seguintes estrofes:

AOS POETAS

Despertai vós, apóstolos e poetas;
Às predições do tempo daí ouvido.
Está cheio o ar do sopro dos profetas,
E o hosana é então nos ventos retinido.

17 Um vol. in-18. Preço: 3 fr. Livraria Delahais, em Pont-I’Éveque.

Há no Sinai nuvens sem claridades;
O Etna a rugir ao horror dos fogaréus;
Porém o Eterno afasta as tempestades,
E sobre a terra enche de luz os céus.

Pois da parábola a verdade luz;
Seu brilho puro nos tocando a fronte,
De um novo dia o seu clarão traduz,
E cujos raios para a fé são fonte.

A fé, o amor, o vero sol das almas
Empresta aos mais obscuros a claridade;
E de seu disco alimenta as palmas,
Para o trabalho e para a caridade.

Vinde vós todos, mártires, aos cantos;
Abri a voz a estranhos lutadores.
Aos ventos todos, nos altos recantos,
Plantai do Cristo a humilde cruz das dores.

A Sra. Quillet está certa quando diz que cada um é chamado a concorrer para a obra da renovação terrestre. Ninguém contesta a influência da poesia, mas ela se engana quanto ao pensamento da Sra. Foulon, quando esta diz: “O entusiasmo invadiu-me a alma e espero que não seja muito tarde para vos entreter com o Espiritismo sério, e não com o Espiritismo poético, que não é bom para os homens. Estes não o compreenderiam.” O Espírito não entende por Espiritismo poético as idéias espíritas traduzidas pela poesia, mas o Espiritismo ideal, produto de uma imaginação entusiasta; e por Espiritismo sério o Espiritismo científico, apoiado nos fatos e na lógica, que melhor convém à natureza positiva dos homens de nossa época, o que constitui objeto de nossos estudos.
R.E. , abril de 1865, p. 171